Verdade ou Mentira?
Fala-se muito sobre a mentira, mas pouco sobre a verdade! Geralmente estamos mais próximos de jugar quem mente, achando que somos pessoas sinceras e honestas, quando na realidade todos mentimos, de forma consciente ou inconsciente a nós mesmos e, por conseguinte, ao mundo ao nosso redor!
Mentir faz parte do processo humano em desenvolvimento e é o ponto que mais dói, pois é na mentira que se encontra o ponto de separação, onde manifestamos o que nos falta, onde expressamos as nossas limitações e, por conseguinte, onde entregamos toda a nossa liberdade. É na mentira que nos desalinhamos e é na incoerência, que o corpo e a alma sangram!
Mentimos em tantos momentos da nossa vida: mentimos para nos proteger, para que nos reconheçam e nos valorizem, mentimos para agradar aos outros, para que se compadeçam de nós, mentimos para que nos achem fortes, para que nos vejam como perfeitos, mentimos para não ficarmos sós, para corresponder às expectativas…
No fundo, mentimos para tentar reprimir as nossas duas grandes feridas: a necessidade de amor e valor…porque a grande e dolorosa verdade é que não nos amamos e não nos valorizamos a nós mesmos!
É essa falta do sentir da essência, que toca a verdade de quem somos, que é amor e expressão divina, que se espelha na busca do amor e valor fora de nós. Colocamos máscaras e representamos todos os dias no grande palco da vida, para tentar preencher esse vazio que sentimos dentro, esse buraco sem fundo que se tenta encher com o amor e valor do externo, mas que nunca consegue, nunca se enche…pois o buraco não pode ser preenchido com amor e valor de fora, mas apenas com aquele que se desenvolve dentro.
O amor e o valor interno são a grande chama que acende o fogo do nosso poder interno e sem ele ardendo forte, cedemos todo esse poder ao externo. Se não temos bem ancorado quem somos, esse poder volta-se para fora e entregamo-lo aos outros, passando estes a comandar a nossa vida e o nosso bem-estar: só ficamos felizes quando o parceiro nos diz que somos maravilhosos e que nos ama ou quando o chefe elogia o nosso trabalho! Vivemos em prol do amor e do valor que o externo nos concede, mas lembro que esse nunca é suficiente, pois vemos sempre a vida segundo os nossos filtros e se não nos amamos e valorizamos, como vamos acreditar que alguém o faça?
É tudo uma grande ilusão! Tudo queremos controlar, mas nunca poderemos controlar o que os outros dizem e sentem! Só conseguimos saber e sentir o que nos vai dentro!
Quando cedemos o poder ao externo, por muito que nos digam e demonstrem, vamos sempre duvidar, vamos sempre sentir o desconforto, o vazio, nunca sentindo que somos inteiros e completos!
Quando achamos que o outro nos completa, a isso chama-se cedência de poder, dependência e apego e não amor e a prova disso que é de um dia para o outro esse amor se pode transformar em ciúme, possessividade, ressentimento e ódio, quando aquilo que o outro nos dá não consegue preencher as expectativas.
Quando isso acontece e, se vivemos de forma inconsciente, lá vem o julgamento, a critica, a cobrança, o querer que o outro seja exatamente como eu quero, pois só assim ele me faz feliz e pode preencher o vazio sem fundo que tenho dentro.
O ser humano é muito complexo e o seu processo de se tornar consciente desenvolve-se pela tomada de consciência do que sente! Mas não é nada fácil, pois na maioria das vezes estamos presos no enredado das emoções, das crenças, preconceitos e sentimentos.
Voltando ao tema da mentira, hoje tenho consciência que ela não é boa, nem má e que é apenas uma ferramenta que indica que a chama do nosso poder interno não arde forte. Pois essa é a chama que expressa a coragem e o respeito por nós mesmos, viver quem somos de verdade, sem nos importarmos com o que os outros pensam ou dizem de nós.
Significa que a usamos como meio de defesa e como forma de sobreviver, pois sem amor o humano não sobrevive e se não o damos a nós mesmos e equilibramos a nossa energia interna, vamos ter de a ir buscar ao externo, entrando no círculo vicioso do puxa empurra, do dar e receber através da manipulação, do controlo e do poder sobre o outro.
Fazemos tudo para proteger a nossa vida, esse é o implante biológico e inato que temos dentro em cada uma das células e por isso, quando nos movemos pela inconsciência e não temos a coragem de expressar a nossa verdade, tornamo-nos atores na nossa própria vida, afastando-nos cada vez mais de quem somos de verdade.
A grande mentira que todos vivemos é essa: mentimos quando somos atores na nossa própria vida, representando papeis para ter o amor e valor dos outros, moldando a nossa personalidade para mendigar esse amor ao externo. Mentimos quando nos apartamos da nossa verdade, da nossa paixão, do que sentimos nas nossas vísceras, da nossa voz interna e o reprimimos por medo.
Eu menti a mim mesma durante muitos anos e ainda hoje minto, pois, a chama do meu poder interno ainda não arde tão forte!
Mas nos últimos anos conhecer quem sou tornou-se a minha paixão e a grande aventura da minha vida! Sei que o caminho é árduo e eterno, mas também sinto que é a razão da minha existência e que tudo o que faço é expressão do criador que Eu Sou!
Assim que o que tento todos os dias é ser o mais honesta comigo mesma, sabendo e acolhendo a mentira, sempre que os limites se rompem e ela me mantem viva e me defende de uma dor que ainda não consigo olhar de frente!
As perguntas que me vou fazendo sempre que o desconforto ou a dor surgem são:
O que sinto? Como sinto? Onde sinto? Com quem sinto? Para quê sinto? E navegando neste sentir vou trazendo luz às minhas sombras e vou tornando o meu inconsciente um pouco mais consciente!
Então, para mim a mentira é apenas uma ferramenta, que se soubermos utilizar de forma consciente, nos pode ajudar muito no caminho do autoconhecimento, pois cada vez que me apanho a mentir a mim mesma ou aos outros, consigo identificar que essa mentira esconde uma sombra que preciso ver. E então, quando me permito, início o mergulho interno do resgate de mais um pedacinho de mim, da minha verdade, da minha essência!
A grande maioria dos humanos vive num estado de inconsciência, sendo dominados pelas ondas e correntes das emoções profundas que habitam em nós. Dessa forma em vez de agir na vida de forma consciente, funcionamos por reação inconsciente, trazendo mais dor e sofrimento sobre nós e os que nos rodeiam.
E como o mundo de fora reflete o mundo interno, a humanidade e o seu percurso evolutivo também o espelha. Durante milhares de anos vivemos em modo de sobrevivência, a mentira como consequência da ausência de poder interno imperando no mundo, criando guerra, desigualdade, pobreza, poder sobre o outro!
Está na hora de evoluir certo?
Essa evolução para mim, não nasce do desejo coletivo de criar um mundo melhor, mas da necessidade intrínseca de cada ser descobrir quem é e o que faz aqui. Só um ser empoderado da sua verdade e a viver na coerência da sua essência poderá ser motor de evolução e transformação de si mesmo e, como consequência do mundo lá fora, pois tudo é por sintomia e a vibração interna cria, a realidade externa.
Quando cada individuo se permitir sentir o amor e o valor que É dentro de si, o mundo transformar-se-á e não haverá mais necessidade de controlar, impor, cobrar, pois deixaremos de buscar fora o que agora temos dentro!
Ao nos tornarmos seres coerentes, alinharemos o que pensamos, sentimos e fazemos, criando em consciência o verdadeiro céu na terra e converteremos o mundo em… VERDADE!